Encontrei
este texto entre meus guardados, e resolvi publicá-lo com a autorização do
autor, meu grande amigo Rodolpho Belo da Paixão, com quem vivi grandes momentos
compartilhando trilhas, jogando conversa fora, e aprendendo muito. Ele foi o pediatra dos meus
filhos e hoje mora em Betim-MG. Talvez algumas explicações se façam
necessárias, então elas seguem ao final.
Já pensou em comparar nossa vida à uma Prova de Enduro?
A
largada é o nascimento: Cheia de emoções e expectativas pelo que vem pela
frente!
A
infância parece com o deslocamento: Não se pode errar o percurso, mas se
erramos, não perdemos pontos.
A
juventude seria o trecho de aferição: Ainda tem-se tempo para correções na
velocidade(ímpeto), testando freios e acelerador, conferindo a pressão dos
pneus que são o nosso contato com o chão.
Aí, começa a Vida, o verdadeiro
Enduro.
As
folhas da planilha vão trazendo para nós as dificuldades, os sufocos, as
descidas escorregadias, os subidões íngremes e longos. Mas também trazem as
lindas paisagens, as matas fechadas, as campinas verdes, os lindos e às vezes traiçoeiros
córregos e rios, o canto dos pássaros. Tantos tombos levamos que a equipe se
chamava Tombo Certo, lembra? Mas aprendemos a nos levantar depois de cada
tombo, e a cada dia nos aperfeiçoamos, conseguindo cada vez andar mais rápido e
com mais precisão.
O
importante não era vencer (a prova), era conseguir chegar. Era conseguir vencer
a nossa sede, a fome, o cansaço e muitas vezes o medo dos tombos.
Como
valia a pena! Como vale a pena! A Vida é um Enduro, uma prova de resistência, de
coragem, de luta, e a gente espera pela alegria de chegar. Se ganhamos troféus
foi porque erramos menos, foi porque acreditamos mais!
Explicações que talvez sejam necessárias:
- Enduro, no contexto, é um tipo de prova de regularidade (portanto
contra o relógio), praticada com motos offroad
específicas para esse tipo de prova. O traçado é desconhecido até o momento da
largada e inclui diversas dificuldades naturais: de atoleiros a paredões quase
verticais, trilhas travadas, pedras soltas, e outras “delícias”. Os pilotos largam um a um, e se
guiam por planilhas (ou road books) que indicam o caminho, as distâncias entre
referências, e a velocidade a ser praticada em cada trecho.
Vence quem conseguir ser mais regular, isto é: passar pelos pontos de controle “PCs”, que são secretos, o mais próximo do tempo ideal. Cada segundo adiantado ou atrasado normalmente representa a perda de um ponto. Portanto, vence quem perder menos pontos. - Deslocamentos são trechos em que não há velocidade controlada. Normalmente são estradas ou caminhos sem dificuldade, utilizados para ligar trechos de trilhas distantes entre si.
- Trecho de aferição: Trecho planilhado logo após a largada, destinado principalmente à calibragem do odômetro.
- No início, essas provas eram disputadas apenas com um crônometro como aferidor do tempo, depois vieram os roadbooks e os computadores de bordo para facilitar a vida dos pilotos. Quando começamos as DTs 180 da Yamaha reinavam soberanas. Depois as máquinas importadas e as equipes fortemente patrocinadas acabaram com a graça e com a espontaneidade do esporte.
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