Hoje pela manhã, ao escrever para um amigo petista (é verdade, eu tenho alguns poucos bons amigos petistas à despeito de suas posições políticas), eu usei uma frase de Brecht, dizendo que talvez fosse a única com a qual eu concordava: "Infelizes as nações que precisam de heróis".
Usei essa frase para me referir à necessidade doentia que aqueles
que se dizem socialistas tem de um líder, de um timoneiro, de alguém que seja o
Salvador da Pátria, como parte de meu comentário maior sobre um vídeo em que um
ator tecia comentários à condução de Lula para depoimentos, criando uma falácia
longa e desconexa.
Bem, minha postagem não é nem sobre o vídeo e tampouco sobre a
frase de Brecht que utilizei, e sim sobre uma outra famosa frase dele:
"Do rio que tudo carrega se diz violento, mas nada se diz das
margens que o oprimem".
Vamos lá: Me parece que essa frase, assim fora do contexto do
poema, mas afinada com a ideologia do autor, pretende dizer que a violência dos
oprimidos se justifica pela própria existência do opressor.
Entretanto, sobre isso eu questiono: Existiria o rio não fosse as
margens que o formam?
Como o rio atingiria o seu destino não fossem as suas margens?
Não houvesse as margens, o rio não seria o rio. Seria apenas um
corpo d'água sem propósito e sem destino, além daquele de ser eventualmente
absorvido pela terra ou sofrer a evaporação pelo sol. E nesse caso, a
terra que absorve a água não seria sua opressora, ou o sol que a evapora não a
estaria matando?
Não é o material que o rio retira das margens que fertiliza as
plantações na várzea abaixo? Não é o
equilíbrio de forças que cria os meandros e impõem beleza à paisagem?
Eu prefiro ver o rio e as margens como duas forças que se
contrapõem e se equilibram, e que formam entidades inseparáveis que só existem
uma em função da outra. Harmonia é o nome do jogo. Vamos deixar de pensar como
Brecht que achava que tudo se resumia a uma luta de classes sem fim.
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