E decidi publicar algo que escrevi muito despretenciosamente enquanto passava uma noite com ele em seu último período no hospital.
Vigília
Vigília é o som da geleira do tempo se arrastando lentamente, guinchando seus gritos de agouro e riscando marcas indeléveis na sua carne.
Vigília é ter o olho fixo na mira à espera do inimigo incerto. É manter-se alerta mesmo sabendo-se impotente diante do inexorável.
Vigília é não sentir o tempo passar enquanto a febre do filho não cede.
É acompanhar o bip errático do monitor cardíaco e não se deixar embalar pelo chiado monótono do respirador.
Vigília é doar um pouco de seu sono pelo conforto do outro,
É a triste sensação de solidão ao assistir à chama da vida se extinguindo.
Vigília é continuar mantendo a fé quando tudo parece falhar,
Vigília é um ato de amor.
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