O nome "Gran Circo" exprime bem a maneira como penso.
Aparentemente caótico, mas muito planejado, às vezes irônico mas sobretudo divertido.
Não esperem só palhaçadas.
Críticas e manifestações humanas em geral terão lugar garantido no picadeiro.

Agora vamos ver como os domadores e palhaços que moram entre as minhas orelhas irão se comportar!



14 dezembro 2012

O valor que damos às coisas

Ontem, eu estava futucando o catálogo da Amazon procurando por algumas ferramentas que não existem por aqui, e circunstancialmente apareceu um relógio de pulso e seu preço.  E junto com ele, a ideia para esta postagem.

Quanto vale o seu tempo?

E quanto deveria valer o instrumento que mede o “seu” tempo?

Quanto ao que é o tempo propriamente dito, é um assunto bem interessante e prometo que será assunto para uma outra postagem.

À primeira pergunta, a resposta mais ou menos óbvia é que depende da sua capacidade de administrá-lo, do seu estilo de vida, da região do mundo em que você vive, e mais um punhado de considerações filosóficas, religiosas, profissionais, etc... É por isso que algumas pessoas não vivem sem um relógio no pulso, enquanto outras sequer sabem o que é isso.

Algumas privilegiadas vivem o seu próprio tempo enquanto outras não se dão conta de que estão vivendo o tempo dos outros.

Quanto à segunda pergunta: Para medir o tempo linear, essa invenção judaico-cristã que nos escraviza até hoje, durante muito tempo bastou uma garrafa com areia, ou até mesmo uma vela acesa.  Nos dias de hoje, basta um chip descartável ligado a um display de LCD, montados numa caixinha plástica com pulseira, disponíveis em qualquer camelô, e todas as nossas necessidades de medição do tempo no dia a dia estarão supridas.  

A partir dessa constatação, eu voltei ao catálogo da Amazon para pesquisar relógios e preços.

O relógio mais barato encontrado custa US$0,01 – você não leu errado, custa um centavo de dólar – e ainda “emite” íons negativos a partir do germânio e turmalina fundidos no silicone da pulseira, que prometem equilibrar a sua saúde, equilíbrio e força (!!!) 

É claro que não são os mais eficientes, visto que, ergonomicamente, ler as horas num display digital é menos racional do que ler as horas num relógio de ponteiros.

 

Na outra ponta, encontrei um relógio Vacheron Constantin Tour d’Ille, pela bagatela de US$ 3,950.000,00 – novamente você não leu errado – é isso mesmo!!!

Um valor inimaginável para um objeto tão prosaico.

 

E num “honroso” segundo lugar, está o Zenith Academy Tourbillion Quantieme Perpetuel de US$ 264,000,00 em oferta por US$ 166,320,00 – uma verdadeira pechincha.

Eu acho que o “perpetuel” do nome  da peça se refere ao tamanho da vida que um pobre mortal precisará ter para pagá-lo.

Só para irritar você leitor um pouco mais, ainda que o relógio de um centavo de dólar durasse apenas um dia e tivesse que ser descartado, você teria que viver 45.000 anos para que o seu gasto ao ver as horas se igualasse ao preço do Zenith, se comprado na oferta!

É claro que você poderá alegar que existem os fatores não mensuráveis de status, de que o primeiro é um instrumento menos preciso do que o segundo, de que não estamos falando de tempo e sim de joias, e blá blá blá.  No entanto, fala sério, esse relógio no pulso do mais fodásticamente rico dos humanos, aumentará o seu status?  Ninguém conseguirá identificar se o relógio do cara custou 100, 200, 1000, ou um milhão de dólares. Então para que isso?

Desculpe-me, mas para qualquer ser humano razoavelmente sensato, deve haver alguma coisa mais importante para fazer com US$ 166,000.00 do que comprar um relógio, não lhe parece?

Falando sério, alguém já parou pra pensar quantas crianças poderiam ser sustentadas na África por um ano, com esse dinheiro? 

Vale a pena refletir sobre o valor que damos às coisas.

 

 

 

 

 

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei!
Carol Prado.