O nome "Gran Circo" exprime bem a maneira como penso.
Aparentemente caótico, mas muito planejado, às vezes irônico mas sobretudo divertido.
Não esperem só palhaçadas.
Críticas e manifestações humanas em geral terão lugar garantido no picadeiro.

Agora vamos ver como os domadores e palhaços que moram entre as minhas orelhas irão se comportar!



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15 outubro 2018

Feliz dia dos professores

Ivan Proles - www.freeimages.com
O que todos os grandes professores parecem ter em comum é o amor por  sua  matéria,  uma  satisfação  óbvia em despertar esse amor em seus alunos, e  uma  capacidade  em convencê-los    de   que   o   que   lhes   está    sendo  ensinado  é  terrivelmente  sério.                    

                                                                               
Epstein
Ainda não sou um professor à altura dos meus mestres, quiçá consiga sê-lo um dia.
Mas não poderia homenagear os meus colegas de docência, sem citar aqueles que me indicaram o caminho para tudo o que tenho conseguido profissionalmente, e de volta à sala de aula como professor.
Embora saiba que nessa lista estarei com certeza, cometendo injustiças, senão por esquecimento mas para manter o texto curto, vão aqui algumas homenagens:
Flora Benatti, minha professora do 1º ano primário, que mostrou-me a descoberta do mundo e o valor da persistência através de um presente, um livro contando as aventuras de Fernão de Magalhães, que movimentou minha imaginação por anos e despertou o meu prazer pela leitura.
Meu padrinho Carlos Pires, tipógrafo, que ao me ensinar a arte da encadernação, trouxe junto a paixão pela preservação de livros duramente garimpados no sebo da única feira livre de então.
Prof. Niquinho, que me iniciou nos conhecimentos musicais, nunca esquecidos e até hoje desenvolvidos como hobby na minha prática do sax.
Jorge Arce meu primeiro gerente na Philips, que quando não entendia algo de minhas explicações sempre me dizia: Valter, explique-me como se eu tivesse 4 anos.
Meu pai, um estranho cruzamento de Geppetto, Prof. Pardal, Dr. Brown (De volta ao futuro), com algumas pitadas de Mandrake; homem que com apenas 6 meses de ensino formal tornou-se um carpinteiro náutico, um esportista que construía suas próprias bicicletas de corrida, mestre pedreiro, técnico em eletrônica, rádio-amador e construtor de seus próprios aparelhos de telecomunicação.
Claro que minha mãe não podia ficar de fora com os seus ensinamentos de como fazer dez coisas ao mesmo tempo, economizar em onze, e ainda ter tempo para multiplicar todo o seu amor e carinho pelos filhos e sobrinhos.
Prof. Rodolpho Mehlmann, Importante educador mogiano, chefe escoteiro, líder religioso e cidadão exemplar, homenageado com vários títulos honorários e patrono da escola que leva seu nome. Foi o cara que me despertou para o aeromodelismo, fotografia, marchetaria, marcenaria, pintura em tecido, além de outras técnicas manuais e industriais.
Prof. Sardinha.  Sob sua influência, formamos um clube de ciências, cujos jalecos envergávamos orgulhosamente trazendo no bolso o símbolo de um átomo com o nome “Inicial clube de ciências”. O objetivo oficial era a prática de laboratório, mas nos inocentes anos 60 nossa missão secreta era o lançamento de foguetes num “campo de provas” nos fundos da escola.
Prof. Felix, um espanhol de sotaque difícil e personalidade ainda pior, mas com um coração de ouro. Me trouxe a paixão pelo chão de fábrica e pela racionalização de métodos, cronoanálise, e ganho de qualidade no relacionamento com os operários.
A lista ainda iria longe não só explorando mais qualidades dos citados, como das dúzias de outros que foram tão importantes quanto. E nem me atrevi a falar do quanto eu tenho aprendido com a prática dos meus colegas de sala de aula a quem rendo as minhas homenagens pelo dia de hoje.
Feliz dia dos professores!

22 janeiro 2018

Seo Antonio e os salmonídeos

Alguns causos merecem ser compartilhados.  Este é um deles.  Estava escrito há muito tempo e, qual é a graça de deixar engavetado?

Houve uma vez, lá pelo final dos 70 ou início dos 80, em que estavamos em 2 casais explorando a serra da Bocaina em um chevette – eita carrinho valente, acampando pelas cidades históricas da região.
Acampados numa fazenda em Bananal, subimos o que na época era uma estradinha precária de terra esburacada, com uma vista lindíssima, e resolvemos pescar trutas no lago do trutário Acqua, o que foi uma covardia porque as trutas faziam fila pra morder o anzol.

image by Skeeze in Pixabay.com


Depois que as belas trutas já estavam devidamente evisceradas, congeladas e armazenadas em nossa geladeira de isopor, resolvemos continuar a subir por umas estradinhas serra acima, atrás de uma estação de salmonicultura que algumas placas velhas diziam existir por lá.
E depois de muito subir, sem encontrar nada que sequer aparentasse ser um curso d’água, e já olhando para as nuvens pelo lado de dentro em alguns pontos, nós nos deparamos com um velho descalço e com um chapéu roto, caminhando pela estradinha.
Desprezando a velha regra de que homem não pergunta o caminho, eu, que estava dirigindo no momento, resolvi perguntar onde ficava a tal estação de salmonicultura.
E o velho respondeu: “Vocês já passaram por ela, vários quilômetros abaixo, um lugar grande com um lago...,vocês não viram as placas?
E nós “inteligentemente” respondemos: “Sim!  Nós até pescamos no lago!  Mas lá eles criam trutas!
E o velho replicou: “Sim!  Mas é lá mesmo. As trutas são salmonídeos!
Boeiiing!!!  Alguma coisa desconcertou os nossos paradigmas naquele instante.
Como um caipira velho, descalço, desdentado, e com um chapéu todo roto, me solta uma palavra tão científica como salmonídeo?   E pra complementar o homem desfiou toda uma história de que o que as velhas placas indicavam era um antigo projeto do governo, mas que não havia mais nada no local, etc, etc...  Mas que, se quisessemos conhecer um lugar muito bonito, com peixes ornamentais e plantas aquáticas, que nós poderíamos seguir em frente até o sítio do Dr. Antonio.  E assim, indicou-nos o caminho.  Agradecemos e tocamos em frente e ele continuou à pé em seu próprio ritmo “devagar e sempre”.
Com a espinha dos salmonídeos entaladas em nossa garganta fomos seguindo por uma estradinha cada vez mais estreita e cada vez mais pra cima, até que chegamos a um local que até hoje, pelo menos 25 anos depois, do qual ainda me lembro com estranheza.
Fomos recebidos por um jovem com aparência hippie e uma criança montada em seu pescoço, que veio em nossa direção meio ressabiado pela nossa presença, deixando-nos porém à vontade quando perguntamos se aquele era o sítio do Dr. Antonio.
Lagos bem cuidados com nenúfares e peixes dourados, uma casa meio estranha, uma kombi velha e e um amontoado de tranqueiras num canto, aliado à uma atmosfera meio nublada, davam ao conjunto uma aparência irreal, meio Shangrilá.
Em seguida chega o tal Dr. Antonio que não era outro senão o homem que havíamos encontrado na estradinha.
Batemos papo, e o filho me contou que o pai havia sido um médico de grande prestígio no eixo Rio – SP e que depois de ter contraído uma doença grave e ter lhe sido dado um prognóstico de poucos meses de vida, resolveu vender tudo, abandonar a cidade e comprar um sítio num lugar bem remoto para passar seus últimos dias.  Só que os médicos seus amigos estavam enganados e já fazia alguns bons anos que ele vivia no local.

Depois de escrever este texto, descobri que o local virou uma pousada gerenciada pelo filho do Dr. Antonio. Qualquer hora ainda apareço de novo por lá.

25 janeiro 2017

A vida é mesmo como um Jogo de paciência?

photo by Carlos Paes in www.freeimages.com
Há muito que tenho cultivado a imagem que a vida é como um jogo de paciência, em qualquer das suas inúmeras versões.
O virar de uma carta (evento aleatório) interfere na sequência como todas as cartas já conhecidas e devidamente posicionadas serão rearranjadas, e muitas vezes ocorrem situações irremediáveis e não conseguimos levar o jogo até o final.  Tal como na vida, dependendo de qual o nível de dificuldade que se tenha imposto, as probabilidades de terminar o jogo com sucesso podem ir de 90% até 20% ou ainda menos.
Isso tem a ver com decisões, desafios, e recompensas. E de novo, tal como na vida, tem a ver com o valor que atribuímos a cada uma dessas coisas.

De uma conversa pela manhã, em que eu e minha esposa conversávamos sobre os "E se" da vida: E se eu me graduasse em medicina?, ou em direito?, E se eu tivesse migrado para o departamento de manutenção?, e se eu não tivesse me demitido do emprego?, E se eu tivesse insistido mais nos negócios do meu pai?, e se eu tivesse ido trabalhar em Manaus, E se eu me graduasse no ITA?  E brincávamos sobre os impensáveis cenários atuais resultantes dessas opções.

Em seguida li uma postagem da minha nora com "lembranças" no facebook, justamente falando de suas decisões, e surgiu-me a ideia de fazer uma pequena postagem sobre o assunto.

As decisões que tomamos são libertadoras (comentário de outra pessoa na mesma postagem).  Ao que eu acrescentei que as decisões que tomamos fazem a nossa história.  Uma única história!

Entretanto, as decisões que poderíamos ter tomado fariam infinitas diferentes histórias cujos resultados jamais saberemos. Compõem uma infinita sucessão de "Se".  Considerando que eu não creio em universos paralelos, não vale a pena sequer pensar em quais seriam os resultados das outras histórias porque elas nunca aconteceram.

A vida só conta a partir das decisões tomadas.

Assim sendo...   'mbora decidir!

E você concorda ou discorda?

Ah! Se você gostou  desse texto, creio que gostará de ler também sobre as lições do vaso quebrado:

http://circodasideias.blogspot.com/2014/07/o-vaso-quebrado-e-suas-licoes.html

19 janeiro 2017

O leilão de cavalos crioulos

photo by Sebastian Danon in www.freeimages.com
Em minha vida de consultor, tive a oportunidade de viajar o Brasil inteiro fazendo projetos rápidos para uma grande multinacional, projetos esses que visavam o desenvolvimento de boas práticas logísticas em clientes promissores, num autêntico ganha-ganha.

De passagem é preciso dizer que ninguém instala um armazém de empresa em um bairro nobre. Desse modo, a periferia e a “beira de rodovias” fizeram parte do pacote com todas as suas peculiaridades. Foi uma oportunidade de ouro para conhecer o Brasil de verdade, a sua gente e cultura regionais, sem os filtros coloridos do turista.  Eu diria mesmo que tive a oportunidade de conhecer os vários Brasis, com suas múltiplas linguagens, culinárias, costumes, valores e crenças. À despeito das diferenças eda pobreza da maioria dos lugares,  eu gostei do que vi.  Ainda tenho fé no Brasil.

É bem verdade que também conheci um mundo de charme e “savoir-vivre”. Tanto com os empresários envolvidos no projeto, com os meandros do poder e da influência política concentrada por eles principalmente nas pequenas cidades interioranas do norte e nordeste, mas também porque a hospedagem foi sempre em hotéis top e frequentemente rolava um almoço de negócios nos melhores restaurantes disponíveis (nem sempre de luxo).
Vou voltar aos causos dessas viagens várias vezes. Por razões de bom senso, quando eu precisar me referir a nomes de pessoas ou empresas esses serão sempre fictícios.

O leilão de cavalos crioulos

Não sei como a cidade está hoje, mas a Curitiba que conheci me deixou muito bem impressionado.  Uma cidade bem organizada e funcional, com gente muito hospitaleira.
Depois de uma reunião inicial com o cliente, fomos convidados  para almoçar no belo Parque Barigui, que é um local tradicional de feiras e exposições. Durante o percurso da sede da empresa até o parque, o sr. Zeca, o dono da empresa visitada, me conta que é criador de cavalos da raça crioula. 

Chegando ao parque, e de  surpresa, ao invés do restaurantes  fomos levados primeiro para visitar uma exposição agropecuária que estava  acontecendo por lá. Muitas picapes, SUVs, muita gente orgulhosa de suas origens gaúchas e devidamente trajadas com suas pilchas.
E aí o Sr. Zeca me pede: “Seo Valter, eu tenho um animal no leilão e preciso de um favor: vai com o meu peão até as cocheiras como se estivesse interessado em iniciar uma criação, converse com o pessoal de lá, e fique particularmente interessado pela minha potranca. Assim como quem não quer nada, deixe escapar que está disposto a pagar pelo menos um X por ela. Isso vai me ajudar a levantar os lances.”

Não sei se ajudei em alguma coisa porque a minha cara de espanto ao ver tantos animais bonitos deve ter me denunciado. Mas o churrasco no almoço estava uma delícia, e nele sim, eu aproveitei para perguntar e aprender mais sobre a raça.  
Quisera eu poder, de fato, começar uma criação.