O nome "Gran Circo" exprime bem a maneira como penso.
Aparentemente caótico, mas muito planejado, às vezes irônico mas sobretudo divertido.
Não esperem só palhaçadas.
Críticas e manifestações humanas em geral terão lugar garantido no picadeiro.

Agora vamos ver como os domadores e palhaços que moram entre as minhas orelhas irão se comportar!



26 julho 2014

pobres de caráter versus pobres de espírito

Antes que alguém venha brigar comigo, deixa eu esclarecer que essa postagem não é sobre a fé, que é legítima, e nem  sobre qualquer religião em especial.  Reflete porém aquilo que eu penso, com o que ninguém precisa concordar.

A postagem é sim, sobre a manipulação e sobre  a empulhação praticada por seres pobres de caráter, sobre outros seres pobres de espírito, em benefício dos primeiros e com os segundos perdendo de goleada, usando a fé como pano de fundo.

Infelizmente, isso é prática constante entre os humanos desde que o mundo é mundo.  A postagem foi, todavia, motivada pelas notícias lidas sobre mais uma manifestação recente desse fenômeno aqui em terras tupiniquins.

Li recentemente em várias fontes, notícias sobre a inauguração do tal “Templo de Salomão”, uma obra de R$ 680.000.000,00 construída pela igreja universal, que é de longe a mais faraônica, de todas as faraônicas obras dessa organização, com 100.000m² decorados com mármore italiano e oliveiras de Israel, e que segundo consta é a realização de um sonho de seu líder máximo. 

Vi também dois vídeos. Em um deles um apresentador apresenta as regras para os visitantes, que terão que ser credenciados antecipadamente; que só terão acesso ao local através de pacotes contratados com a transportadora oficial (a um custo de R$45,00 por pessoa); que não poderão se atrasar (adeus R$ 45,00); que só poderão ser fotografados pelos fotógrafos oficiais do templo (de graça???), já que não se permite a entrada de nenhum equipamento de gravação ou fotos; bem como ainda terão que ser revistados pelo serviço de segurança próprio do local, além de outras regras impertinentes para a época em que vivemos.

Ora, senhores!!!   Esse “templo” é consagrado à fé ou ao dinheiro?  É um templo ou um shopping?  Que Deus é esse que habita o templo e que não confia em seus fiéis a ponto de precisar revistá-los?

É de pasmar, a empáfia (disfarçada de candura), do tal apresentador ao falar do templo como a casa que o próprio Deus escolheu como sua, considerando que será a residência oficial do seu líder máximo.

No segundo vídeo, que evidentemente eu não tive paciência de assistir todo, também é de pasmar a empáfia com que se apresentam os líderes, com mantos brancos e listras azuis, usando kipás, como se fossem rabinos, diante de uma multidão imensa de seus pastores menores, fazendo orações e pedidos, exigindo e dando ordens para um Deus amestrado, que parece ter por obrigação fazer os fiéis de tal igreja ricos e prósperos, para que desse modo possam contribuir com mais dízimos e proporcionar uma vida confortável para os “eleitos”.

Ops!  Eu estou falando de religião?   Não!  Eu não estou falando de religião e tampouco de fé. Estou falando de um discurso tecnicamente perfeito em termos neurolinguísticos, praticado por pessoas pobres de caráter mas extremamente espertas, apoiadas por uma cenografia e por adereços (mantos, kipás, menorahs e outras referências fora de seu contexto religioso original), e que visa através dessa empulhação manipular uma enorme multidão de pobres de espírito para que atendam os intere$$es da organização, dos $eu$ líderes e $eu$ “eleitos”, através de dízimos, doações, serviço voluntário, etc...

Usam como argumento uma tal “teologia da prosperidade” que incentiva os fiéis para que do mesmo modo, eles também tirem proveito do próximo em benefício próprio, o que não é nem remotamente uma atitude desejável para quem busca o paraíso.

Ouvindo os discursos e as orações entoadas com as típicas vozes anasaladas e português empolado e pobre de concordâncias, em que prosperidade, riqueza, dinheiro, são palavras recorrentes, me parece que para entrar no paraíso será preciso apresentar o extrato da conta bancária, preferencialmente de algum paraíso fiscal.

A necessidade de crer é uma característica humana, e a liberdade para escolher o modo como praticar sua fé, é um direito individual inalienável, entretanto a exploração das carências humanas através da fé é uma coisa abominável. Isso me assusta!

Por outro lado, me assusta também o fato de que qualquer manipulação de massas, dirigida para qualquer foco ou ideologia que se possa imaginar tem resultados imprevisíveis e lamentáveis, como já vimos incontáveis vezes ao longo da história humana.  Quem assistiu o filme “A onda” sabe como é fácil transformar uma massa de inocentes em fanáticos dispostos a matar ou morrer por uma causa.

E quando o “leitmotiv” é religioso, isso parece gerar preconceitos e intolerâncias que levaram e levam a resultados ainda mais catastróficos.

Basta pesquisar um pouquinho sobre as Cruzadas, Jihad,  talibãs, suicídios coletivos, limpezas étnicas, destruição de patrimônios culturais, e tantos outros crimes e patifarias que tem sido cometidos em nomes dos incontáveis deuses de nossa história, para entender do que eu estou falando.

Talvez neste ponto, a minha postagem encontre-se com a fé.  A fé utópica de que, um dia, sucesso, riqueza e prosperidade sejam resultados somente do trabalho honesto, e que cada um possa conversar com os seus próprios deuses para agradecer e não para pedir, sem ritos e sem a necessidade da intervenção dos falsos profetas, de suas taxas e de seus falsos milagres.

 

Nesse ponto, dará para falar “Amém!”

Um comentário:

Christian Steagall-Condé disse...

O que eu estou percebendo, é que estou deixando minhas barbas de molho. Um crente crê e não contesta. Diferente de mim, que tenho discernimento e dúvida, ele tem certeza e cegueira. Fiquemos atentos, pois a chamada Era Cristão, nunca aconteceu no passado.
Ela está ocorrendo HOJE, no AGORA, no IMEDIATMENTE.