O nome "Gran Circo" exprime bem a maneira como penso.
Aparentemente caótico, mas muito planejado, às vezes irônico mas sobretudo divertido.
Não esperem só palhaçadas.
Críticas e manifestações humanas em geral terão lugar garantido no picadeiro.

Agora vamos ver como os domadores e palhaços que moram entre as minhas orelhas irão se comportar!



09 março 2016

Desmontando Brecht


Hoje pela manhã, ao escrever para um amigo petista (é verdade, eu tenho alguns poucos bons amigos petistas à despeito de suas posições políticas), eu usei uma frase de Brecht, dizendo que talvez fosse a única com a qual eu concordava: "Infelizes as nações que precisam de heróis".  

Usei essa frase para me referir à necessidade doentia que aqueles que se dizem socialistas tem de um líder, de um timoneiro, de alguém que seja o Salvador da Pátria, como parte de meu comentário maior sobre um vídeo em que um ator tecia comentários à condução de Lula para depoimentos, criando uma falácia longa e desconexa.

Bem, minha postagem não é nem sobre o vídeo e tampouco sobre a frase de Brecht que utilizei, e sim sobre uma outra famosa frase dele:

"Do rio que tudo carrega se diz violento, mas nada se diz das margens que o oprimem".

Vamos lá: Me parece que essa frase, assim fora do contexto do poema, mas afinada com a ideologia do autor, pretende dizer que a violência dos oprimidos se justifica pela própria existência do opressor.
Entretanto, sobre isso eu questiono: Existiria o rio não fosse as margens que o formam?
Como o rio atingiria o seu destino não fossem as suas margens?

Não houvesse as margens, o rio não seria o rio. Seria apenas um corpo d'água sem propósito e sem destino, além daquele de ser eventualmente absorvido pela terra ou sofrer a evaporação pelo sol.  E nesse caso, a terra que absorve a água não seria sua opressora, ou o sol que a evapora não a estaria matando?

Não é o material que o rio retira das margens que fertiliza as plantações na várzea abaixo?  Não é o equilíbrio de forças que cria os meandros e impõem beleza à paisagem?


Eu prefiro ver o rio e as margens como duas forças que se contrapõem e se equilibram, e que formam entidades inseparáveis que só existem uma em função da outra. Harmonia é o nome do jogo. Vamos deixar de pensar como Brecht que achava que tudo se resumia a uma luta de classes sem fim.

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